top of page

 

Apresentação dos Resultados das Entrevistas

 

 

"Setúbal contrasta entre a terra e o mar, a urbe e o natural, a tradição e a modernidade.

O castelo está disposto sobre ondas aguadas de verde e prata onde vogam duas barcas afrontadas, de mastreação singular e velame amarrado, ladeando a porta do castelo. Deslocando-se sobre o mar ondeado, três peixes de prata afrontados."

 

Câmara Municipal de Setúbal

 

Guião de entrevista

 

 

 

 

 

 

 

Alguns resultados 

 

Tal como se pode verificar, através da citação referida anteriormente, pela Câmara Municipal de Setúbal, esta ligação ao mar fez da pesca uma atividade antiquíssima, praticada pelo homem desde a pré-história e que tinha em vista conseguir obter os meios necessários à sua subsistência, a partir do meio aquático, e com um rio abundante em peixe, como o Rio Sado, a pesca apresentava-se fácil e de elevado retorno, tornando-se o peixe um elemento primordial para a alimentação, e consequentemente fator de fixação das populações.

Esta atividade tornou-se de crucial importância económica, potenciando o comércio e as artes e saberes ligados à pesca. A atividade gera empregos em sectores tão diversos como o do comércio de peixe fresco, das conservas, dos congelados, das farinhas, da construção/reparação naval, da cordoaria, dos transportes, da administração, da investigação, da formação, entre outros.

Depois de analisarmos as entrevistas, considerou-se pertinente efetuar uma divisão em diferentes subdimensões, tendo em consideração a dimensão “caraterísticas específicas da primeira traineira do rio Sado: nome, material, cor, lotação e comprimento, de forma a tirar algumas conclusões, nomeadamente, em relação ao nome atribuído, pelos pescadores à traineira. 

 

 

Análise de alguns excertos das entrevistas

 

 

Assim sendo, tudo era feito com muito rigor, desde as cores que se escolhiam para o revestimento (azul, vermelho, verde, branco, preto…), até aos nomes com que se batizavam as traineiras. Nas memórias estão gravadas aventuras e desventuras, tal como nas traineiras a identidade de uma família, em várias gerações, tal como se pode constatar através dos excertos de algumas entrevistas:

 

 

 “(…) tendo em linha de conta, o nome dos familiares, nomeadamente filhos e netos.”

 

 

 “(…) O barco é como um B.I, os nomes dos barcos tem a ver com a família, nomes de filhos ou netos. Ex: “Ricardo Luis” – filho e pai.”

 

 

“Os nomes que as traineiras tinham era dirigidos aos familiares  como por exemplo “ luísa Ferreira Claudino .”

 

 

“(…) A traineira em que esteve 20 anos foi a Cátia Maria.”

 

 

Também a necessidade de proteção/agradecimento de uma qualquer divindade e, porque eramos um país marcadamente católico e, cuja fé era determinante, bem como os lugares mais prodigiosos no fornecimento de alimento, levavam os pescadores a atribuírem outros nomes às suas traineiras:

 

 

“(…)inicialmente a traineira foi batizada por Toca dos Polvos e mais tarde por Virgem Medianeira.” 

 

 

As condições socioeconómicas obrigavam ao envolvimento de toda a família e, por isso, finalizado o dia na escola, as tarefas eram muito diversas, não havendo mesmo, para algumas crianças, qualquer tempo livre, uma vez que tinham que cuidar dos irmãos e ajudar os pais:

 

 

“(…)Começou a pescar num bote de madeira com o seu pai quando ainda tinha 8 anos e sempre depois da escola. (…)”

Era preciso dar continuidade a esta arte, ou por questões afetivas ou mesmo por questão de sobrevivência:

 

 

“(…)a Traineira que eu tenho agora foi me oferecida pelo meu pai antes de falecer(…) “

 

 

“ (…)Nasci dentro de uma Traineira, entretanto o meu pai que era pescador faleceu quando eu ainda nem tinha um mês e como homenagem decidi continuar a sua profissão, até aos dias de hoje.”

 

 

 

E é a saudade de toda a juventude, bem como a carga afetiva que estas embarcações contêm, que os leva a recuperá-las, apesar dos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) Português sugerirem que a pesca é um setor que tem vindo a perder peso relativo e absoluto na economia:

 

 

“(…) passados estes anos voltei a comprar a antiga e a concertá-la.”

 

A atração por esta atividade já não é a mesma, uma vez que os incentivos para a sua prática são cada vez mais escassos e os benefícios económicos retirados são também menores:

 

 

“(…)não considero  que haja evolução na pesca da Traineira mas sim, degradação, derivado à falta de peixe na costa portuguesa, o preço do gasóleo, à falta de tripulantes porque ninguém quer ir para a pesca porque se ganha pouco e é incerto.”

Estas são as raízes de um povo, cuja localização geográfica, pela sua ligação ao mar, beneficiou a atividade piscatória:

 

 

“(…)atualmente uso um pequeno bote para a pesca mas quando era mais novo pescava numa traineira.”

 

Em suma: Neste trabalho centramo-nos na análise interpretativa dos sentidos e representações dos pescadores da doca de Setúbal.

Após entrevistar 28 pescadores, foi possível inferir, mais uma vez, que a península de Setúbal tem uma forte ligação ao mar, o que faz da pesca uma atividade antiquíssima, sendo o peixe um elemento fundamental na alimentação.

Assim, a atividade piscatória tornou-se extremamente importante para a economia de subsistência dos pescadores.

Desta forma, indo de encontro ao tema deste trabalho – “Origem da primeira traineira de pesca do rio sado”, houve necessidade de saber as caraterísticas específicas desta traineira.

Concluindo-se, assim, que tudo era construído com muito rigor, desde as cores que se selecionavam para o revestimento, até ao porquê dos nomes atribuídos às traineiras, a saber: identidade de uma família, em várias gerações e a necessidade de proteção/agradecimento de uma qualquer divindade.

Também se concluiu que as condições socioeconómicas obrigavam ao envolvimento de toda a família e que foi preciso dar continuidade à arte piscatória, quer por questões afetivas ou mesmo por uma questão de sobrevivência.

Por último, não menos importante, convém salientar a heterogeneidade de alunos (cursos regulares e vocacionais - turma 8º J e 10ºL) e a participação massiva de todas as turmas do 7º e do 8º ano da escola, bem como, a sua envolvência, neste tipo de atividades (muitos alunos desenvolveram trabalhos extra aula, nomeadamente vídeos, por carolice). Importa, mais uma vez, salientar a importância da interdisciplinaridade, neste tipo de atividades, bem como o interesse, motivação e participação demonstrados pelos alunos e encarregados de educação.

 

bottom of page